domingo, 16 de agosto de 2009

Poema.


Aí que um dia ele me mandou esse poema...disse que parecia comigo...então volta e meia encontro pedacinhos de mim nele (acho que porque já começa falando de um talento nato para a culinária que não possuo)...e amo!...muita saudade...(e te vi ontem...) - CHEGA LOGO SEGUNDA-FEIRA!
Desato

È preciso fritar o arroz bastante antes de jogar água fervendo.
E não pode mexer jamais depois de a água ser posta.
O alho deve fritar no óleo junto com o arroz.

Coisas que eu sei e que não. Eu sei muitas coisas.
Faxina por exemplo. Sei limpar uma casa de tal modo
Que não sobra um canto que não tenha sido tocado
Por minhas mãos.
Depois vou sujando. Com muito gosto.
Deixo peças na sala e louças sujas na pia.
Não na mesma hora mas um pouco
Bastante depois volto limpando
Assim me faço.
Nos objetos que me acompanham.

Gosto de andar nas ruas e comprar coisas
Que vão se arrumando em torno de mim.
Tenho muitas coisas, quero dizer, muitas camadas.
Uma camada de livros, outra de sapatos.
Tem a camada de plantas, E toalhas de rosto.
Tenho camadas de cosméticos e de adereços.
Uma camada de nomes e de coisas que vejo.
Tudo ordenado ao meu redor. Em forma de corpo.
Um corpo que me sustenta quando o meu próprio me falta.
Cadeiras são meus ossos. Sapatos são meus braços.
Torneiras em meus poros. Paredes como roupas de inverno,
(Quando toca música em minha casa sai do umbigo)

Descanso recostada nas paredes de casa.
Que me aguardam como um abraço.
Me abraço quando me derramo na sala.
E na cozinha. Ema geral adormeço no quarto.

Tudo em minha casa tem existência.
Todas as coisas significo.
Com os olhos. Ou com as mãos.
Minha casa tem silêncios
Que às vezes ouço. Em meu corpo
Tem silêncios maiores ainda.
Que às vezes ouço. E faço poemas.
Faço poemas dos silêncios que ouço.

(V. Mosé)
*(Fotografia + Ilustração: Geraldine Georges)

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